Maria Inês Gomes, neste projeto da Faculdade de Belas Artes do Porto, cruza o campo das artes plásticas com o das artes performativas.

Esta exposição chama apenas por um nome: o de Maria. É neste nome que cabe um coletivo de muitos outros: os anónimos, os conhecidos, os desconhecidos, os pessoais, os coletivos, os apagados, os esquecidos e os resgatados.
"Invocação de uma mulher chamada Maria” parte de uma investigação que utiliza a marioneta como ferramenta base para construir o diálogo em torno da construção de uma figura feminina e da sua dualidade. Cruza-se o campo das artes plásticas com o das artes performativas. Reúne um conjunto de trabalhos que deambulam entre crenças e superstições, abordando o seu carácter influente na perceção do que nos rodeia e como afetam as representações que construímos daquilo que nos é desconhecido.
Maria parte da associação e cruzamento de iconografias femininas e desdobra-se entre uma faceta mais conservadora e uma mais livre. Procura diluir os limites entre binómios, como o bem e o mal, o correto e o incorreto, o estar dentro e o estar fora, contaminando-os entre si. Reflete sobre os estereótipos associados à figura feminina, o seu papel social e a manipulação desta construção. Une a experiência particular com a coletiva, intersetando o sagrado com o profano. É através do desenho, da gravura e da construção de objetos que encontramos as projeções do(s) duplo(s) desta figura.
Maria apresenta-se como uma marioneta que se adapta à vontade de quem a observa. É uma figura submissa, mas também dominadora. Cativa-nos pela estranheza das suas formas, levando-nos a pensar quem realmente é a figura manipulada. Recorre-se assim ao jogo e ao brinquedo como instrumento de sátira e provocação.
No Corpus Christi encontramos um espaço de comunicação, onde o próprio lugar expositivo convoca o encontro destas dualidades. O antigo convento serve de cenário simbólico para o confronto entre as figuras litúrgicas e demoníacas que os trabalhos evocam. Num gesto provocatório, chamamos a personagem-tipo da bruxa ao diálogo, convidando-a a entrar num espaço que lhe é proibido, aludindo ao contexto histórico da diabolização feminina e as implicâncias que as crenças representam na construção social e cultural ainda nos dias de hoje. O antigo parlatório propõe-nos diluir essas fronteiras, num exercício de confronto e de retorno. Onde outrora existia uma divisão demarcada, propõe-se agora um espaço de contaminação entre Maria, os seus duplos e o espetador.
Maria é uma purga do peso do passado e simultaneamente uma ode ao peso do pecado que a figura feminina acarreta. É um acumular de crenças e superstições, o preenchimento de um vazio e um chamamento daquilo que se encontra de mais profundo nas nossas entranhas.

Visitas de terça-feira a domingo, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, até 9 de novembro, no Parlatório do Espaço Corpus Christi.
Mais informações através do tlf. 223 742 462 ou e-mail [email protected]